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Um desenho grande

Flávio Gonçalves

 

Um desenho grande já é uma promessa, um desejo que lançamos com persistência e esforço. 

Guilherme Dable propõe nessa exposição que pensemos as ambigüidades de todo desejo, naquilo que ele nos entrega de um lado e nos priva de outro; na incapacidade de reunir num todo aquilo que é fruto do corte e da divisão.

Um desenho grande, extensão de água de um lado e céu com nuvens do outro; dois extensos desenhos de gestos e massas de cor envolvendo o espaço da sala e nos colocando no centro, imersos por essa divisão.

A linha do horizonte, o limite imaginário que separa o céu da terra, é também a imagem da procura e do inatingível, que reflete a dimensão daquilo que buscamos no mundo e não podemos perder. Desenhar é em grande medida desejar, pois num desenho nossos desejos são lançados e outros mais se criam – a linha é mais busca que separação. 

Nessa instalação estamos no centro e isso parece dar corpo ao que separa uma imagem da outra, transporta a evidência desse vazio ao nosso próprio corpo. Mas nem por isso ela deixa de nos transportar de algum modo.

"Trate-me por Ishmael" é o título do trabalho, o que provoca a lembrança da aventura do personagem entre o céu e mar, sua busca por reencontrar a si mesmo através da viagem e do desconhecido. Trate-me como se eu fosse um, a união de todas as distâncias possíveis.

 

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